Participar das COPs transformou minha visão: descobrir o meu papel como jovem na luta climática

Minha primeira COP foi a COP26. Fui com o intuito de entender o que exatamente era uma Conferência das Partes. Tive a sorte de que ela aconteceu na Escócia, na cidade de Edimburgo, já que eu estava morando no País de Gales e estudando na Universidade de Aberystwyth. Cheguei com um olhar ativista e curioso, determinado a compreender aquele universo. Infelizmente, foi um pouco difícil interagir com as pessoas, pois era um dos primeiros eventos internacionais a reabrir suas portas após o auge da pandemia de COVID-19. Havia um certo receio no ar, o que dificultava as conversas e conexões mais profundas.

Txai Surui conversando comigo na COP26

Porém, lembro que conversei com algumas pessoas incríveis, como a Txai Suruí, que conheci na COP26. Ela me deu um conselho que levo comigo até hoje: “Se você quer salvar o planeta, precisa ouvir os povos indígenas, pois são eles que estão há séculos na linha de frente defendendo as florestas. Sem eles, o desmatamento seria ainda maior.” Esse encontro me marcou tanto que, meses depois, usei esse ensinamento como base para uma apresentação que fiz no International Youth Conference (Conferência Internacional de Juventude).

A segunda COP foi a COP27, realizada em Sharm El-Sheikh, no Egito — minha primeira vez em um país árabe. Nessa edição, eu tive a minha primeira experiência acompanhando salas de negociação, o que me permitiu entender como funcionam as reuniões formais e como os países tratam temas como o que eu acompanhava: perdas e danos. Também tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas envolvidas com o movimento de juventudes, além de políticos, cientistas e jornalistas brasileiros. Já que a COVID-19 não era um problema como na ultima COP.

Juventude Brasileira na COP27.

Porem, meu unico problema era interno. Confesso que, nessa COP, me questionei bastante sobre qual era o meu papel enquanto jovem estudando mudanças climáticas e política internacional. Em alguns momentos, me perguntava por que eu estava ali. Com o tempo, percebi que muitas outras pessoas sentiam o mesmo. Muitos argumentavam que a COP, em si, não é feita para a sociedade civil ou para a juventude. No entanto, a COP27 foi um grande marco pessoal para mim. Comecei a entender os processos, me conectei com a juventude brasileira e participei da criação do CONJUCLIMA (Coalizão Nacional de Juventudes pelo Clima e Meio Ambiente, é uma coalizão de juventudes que reúne diversas organizações e representações, incluindo jovens indígenas, periféricos, ativistas, universitários, entre outros atores que compõem a esfera da juventude), uma coalizão de juventudes da qual faço parte até hoje.

Primeira reunião com a sociedade civil na COP27.

A COP28 aconteceu em Dubai. Como muitos jovens, enfrentei dificuldades financeiras para participar. Quase desisti. Normalmente, eu trabalho e guardo dinheiro específico para poder ir. Porém, desta vez, consegui hospedagens acessíveis providenciadas pela presidência da juventude da COP28, além do transporte gratuito, o que tornou viável minha participação.

Se na COP anterior eu ainda me sentia perdido sobre meu papel, nesta eu já sabia: estava ali para falar sobre a juventude. Participei de vários painéis onde pude abordar o CONJUCLIMA, colonialismo, refugiados climáticos e também falar sobre o Brasil. Esses momentos foram incríveis para mim, pois finalmente estava compartilhando temas pelos quais sou profundamente apaixonado.

A COP28 também foi marcante por outro motivo: foi a primeira em que o presidente Lula participou como presidente eleito. Ele convocou uma reunião com a sociedade civil, jovens, povos indígenas, cientistas e representantes quilombolas. Para mim, foi a maior oportunidade da minha vida. Estava ali, na frente de todos os ministros do Brasil e de tantas pessoas que representam nossa sociedade. A jovem escolhida para fazer o discurso foi a Marcelle Oliveira, que falou sobre a importância da presença jovem na tomada de decisões e apresentou um decreto elaborado por nós, jovens, propondo a implementação do CONJUCLIMA.

Marcele Oliveira entregando o Decreto Presidencial para a implementação do CONJUCLIMA.

Se na COP27 eu estava inseguro sobre meu papel, na COP28 eu me sentia confiante, com clareza sobre minha missão: compreender a juventude e comunicar suas necessidades e propostas.

Na minha última conferência, a COP29, eu fui graças a universidade de Leeds e ao Priestley centre que me ajudou muito a ir para a COP. Eu fui graças à universidade. Eu estou cursando meu mestrado em futuros climáticos (Climate Futures: Science, Society and Politics MSc). Foi a minha participação mais curta, passei uns 8 dias lá, mas também a mais intensa em termos de atividades. Fui convidado para diversos painéis, onde falei sobre meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que trata dos Conselhos de Juventude Climáticos (Youth Climate Councils) e do próprio CONJUCLIMA. Também discutimos o papel das juventudes na resiliência climática, sua influência nas decisões globais e, especialmente, no contexto dos BRICS.

Foi a COP em que mais tive oportunidades. Hoje, me sinto feliz em ver o quanto as juventudes do mundo estão organizadas e ativas nesses espaços. E reconheço que só tive essa chance porque, nas primeiras COPs, enfrentei minhas inseguranças e busquei entender meu lugar nesse processo. Durante a viagem para a COP29, passei por um grande problema no aeroporto da Turquia. Meu visto para o Azerbaijão não estava fazendo o download no site oficial, e acabei perdendo meu voo. Foi uma situação muito difícil. Mas, nesse momento complicado, recebi um apoio imenso da juventude. Mariana Maraschin (Youth Climate Leaders) , Mikaelle Farias (Palmares Lab), Alana Sales (Palmares Lab), Tabita Ayonã (Palmares Lab), Kimberly Silva (Cop das Baixadas), Alex Farias (Palmares Lab) e Rayndra Araújo (Palmares Lab) ficaram comigo no aeroporto até o último minuto, tentando resolver o problema. Eles me deram suporte emocional, ajudaram a lidar com o site fora do ar, e graças à insistência da Marina e da Mikaelle, conseguimos contato com a UNFCCC, que enviou meu visto imediatamente. Foi uma situação resolvida graças a nós, jovens, mostrando na prática como somos fortes juntos.

Youth Climate Councils Global Alliance at COP29.

No momento em que escrevo este texto, estou na lista dos 25 jovens cotados para assumir a presidência do Youth Climate Champion (PYCC) para a COP30. O mais incrível é saber que, entre esses 25, eu conheço 16 — e esses 16 são amigos que fiz ao longo dessa jornada nas COPs.

O mais bonito de tudo é que estamos nos organizando para criar uma comissão ou conselho que apoie o futuro PYCC, mostrando como a juventude está disposta a se ajudar e construir coletivamente um futuro melhor.

A COP me ensinou o que é ser jovem e entender meu papel na sociedade — e nas conferências também.

Graças a tudo isso, escrevi minha tese sobre como as juventudes se organizam ao redor do mundo para criar coletivos como conselhos, comissões, organizações ou coalizões climáticas. Resolvi focar especialmente nos Conselhos de Juventude Climáticos (Youth Climate Councils) e em como as juventudes se mobilizam para mudar e influenciar políticas climáticas — localmente, regionalmente, nacionalmente e também internacionalmente.

A juventude é um ator político extremamente influente: molda políticas públicas, impacta a educação e dialoga tanto com setores públicos quanto privados.

Nós, jovens, temos força e impacto. Somos o presente — e não apenas o futuro — da nossa geração. Somos aqueles que trazem a mudança todos os anos. Somos os primeiros a nos organizar e a nos manifestar diante dos problemas sociais. E na COP, não é diferente: nos organizamos, falamos em painéis e usamos nossas vozes nas redes sociais para influenciar outros jovens e novas gerações que estão surgindo.

Nunca foi tão fácil se comunicar sobre a crise climática como é agora — e a juventude faz isso melhor do que muitos especialistas. Mostramos a realidade das COPs de uma forma acessível, didática e humana.

Ser jovem é isso: mobilizar, influenciar e ser a mudança.

O CONJUCLIMA na reunião com a sociedade civil com o Presidente Lula na COP28.

Claro, enfrentamos dificuldades. Eu mesmo passei e sei que vou passar por muitas outras. Nem sempre temos financiamento, apoio, ou o reconhecimento que merecemos. Mas, mesmo assim, sempre estamos ali ajudando uns aos outros, acreditando na mudança e lutando juntos por um presente melhor, somos a juventude climatica.