Como parte da minha pesquisa de mestrado sobre a presidência brasileira da COP30 e Lideranca Brasileira, pude formular e enviar à Presidência da COP30 um conjunto de perguntas para entrevista. Minhas perguntas tinham como objetivo me ajudar a compreender os dilemas impostos à liderança brasileira na diplomacia climática global pelo agronegócio doméstico e pela expansão da extração de petróleo, além de facilitar a participação efetiva dos povos indígenas. As respostas fornecem uma visão sobre o que está em jogo e como eles estão lidando na prática com as profundas tensões para liderar a cúpula climática mais importante da década. Por conta disso, neste blog estarei compartilhando as perguntas e respostas que fiz para a presidecia da COP30.
1. O agronegócio é tanto um pilar da economia brasileira quanto o principal impulsionador histórico do desmatamento. Como a presidência da COP30 planeja envolver esse setor no processo de negociação ? Você acha que é possível trabalhar com eles como um parceiro construtivo para a agenda climática?
A Presidência da COP30 pretende fomentar o diálogo com todos os segmentos do agronegócio, promovendo soluções que conciliem o crescimento econômico com as metas climáticas. Além disso, a agricultura familiar será destacada como um exemplo construtivo, dado seu papel na mitigação das mudanças climáticas por meio de práticas sustentáveis como agroecologia, agrossilvicultura, uso eficiente da água e conservação do solo. Essas abordagens demonstram que é possível envolver o setor agrícola como parceiro no avanço de uma economia resiliente ao clima.
Veja também: “A COP30 incluirá alimentos provenientes da agricultura familiar”
2. Observadores internacionais e a sociedade civil apontam para uma aparente contradição entre sediar a “COP da Amazônia” e a possível expansão da fronteira de exploração de petróleo na foz do Amazonas. Como o governo e a presidência da COP respondem a essas críticas e administram essa tensão perante a comunidade global?
A Presidência da COP30 reconhece as preocupações, mas enfatiza que, de acordo com o Acordo de Paris, cada país define seu caminho para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis de acordo com suas realidades econômicas e compromissos líquidos zero. As NDCs abrangem toda a economia, permitindo flexibilidade para equilibrar as reduções de emissões entre os setores. Portanto, a transição energética é um processo gradual, moldado por contextos nacionais e desafios de financiamento. O paradoxo específico é que cada país terá um caminho diferente. Há países que são totalmente dependentes de combustíveis fósseis em suas economias e há países que são muito menos dependentes. As fórmulas devem ser desenvolvidas caso a caso, e cada país deve ter um plano de transição econômico e racional para atingir a meta de zero emissões líquidas até 2050.
3. o discurso oficial coloca os povos indígenas no centro da solução climática. na prática, que mecanismos a COP30 e a política brasileira estão implementando para garantir que a participação e a liderança indígenas não sejam apenas simbólicas, mas efetivas, e que seus conhecimentos e direitos influenciem as decisões sobre o futuro da Amazônia?
A Presidência da COP30 está comprometida em garantir que a participação indígena seja substantiva e impactante, reconhecendo seu conhecimento ancestral no manejo de florestas e ciclos de água. Uma iniciativa importante é a criação de uma “Vila da COP” na Universidade Federal do Pará, projetada para receber cerca de 3.000 participantes indígenas do Brasil e do exterior – superando em muito o recorde anterior da COP de 350 participantes, visto em Paris (2015) e Dubai (2023). Esse espaço ampliará as vozes indígenas, integrará seus conhecimentos aos debates sobre o clima e fortalecerá sua influência nas decisões sobre o futuro da Amazônia. No espírito do “mutirão”, os Diálogos Auto-Organizados do Global Ethical Stocktake foram promovidos pela Presidência da COP30, fomentando o intercâmbio e o diálogo sobre a natureza, a arte e a integridade ecológica. Essas discussões são descentralizadas e também ressaltaram o papel da sociedade de nutrir o cuidado e a administração, reunindo líderes indígenas, religiosos, políticos e da sociedade civil para refletir sobre soluções coletivas.
